O que é texto? Qual a diferença de texto digital e não digital?
Desde o momento em que o texto se
tornou objeto de estudo da Linguística, as diversas formas de defini-lo não conseguiam esgotar a sua complexidade compreensiva. Em virtude disso, esta discussão teórica
não pretende findar ou responder a um questionamento, mas apresentar alguns
conceitos de texto em diversos autores consagrados, tendo em vista que,
intuitivamente, até sabemos distinguir o texto de um não texto, entretanto, “ainda
não se chegou a definição geralmente aceita”, como assegura Mascuschi (2012, p.
22).
Devido à necessidade de se estudar
o texto na linguagem humana, é inaugurado a Linguística Textual, ciência que traçou um percurso evolutivo em três momentos ou fases, mesmo sem precisão cronológica homogênea. São elas: (1) a transfrástica, (2) as
gramáticas textuais e (3) a elaboração de uma teoria do texto.
É na fase transfrástica, segundo
Koch (2004), que há a busca pelo estudo dos mecanismos interfrásticos
pertencentes ao sistema gramatical da língua, fazendo com que a análise enunciativa
apresentasse limitações, visto a denominação do texto com uma “frase completa”
e/ou um “signo linguístico primário” (HARTMANN, 1968 apud KOCH, 2004). Entretanto, o texto não pode ser mensurado pela soma
de frases ou enunciados os quais o constituem, em virtude de sua existência ser
independe de uma cadeia de aglomeração de palavras ou frases (há textos que se
compõem de uma só sentença ou palavra, assim como frases longas nem sempre
constituem um texto), contudo deve ser subordinado a uma construção de
sentidos durante a interação e entre os sujeitos assujeitados (o indivíduo não
é dono do seu discurso e de sua vontade).
Partido dessa falta de
entendimento sobre a complexidade na definição de texto, a necessidade de elaborar
uma gramática do texto, na visão de Marcuschi (2016), apontou para o surgimento
de um sistema capaz de identificar se uma sequência de frases era ou não um
texto ou se ele era bem formado. Nesse sentido, embora aumentasse a percepção
de que todo sujeito é um produtor de textos e um reconhecedor das suas diversas
nuances tipológicas, as problematizações das Gramáticas Textuais não esgotaram
a dificuldade conceitual de ver o texto como um evento constituído por seres
sociais que utilizam a língua em suas transformações sucessivas.
Diante disso, devido à
necessidade de fuga da visão de texto como um produto acabado, a elaboração de
uma teoria do texto foi capaz de abrir novos caminhos e de dar amplitude para os estudos, visto que ela levava em consideração os fatores da textualidade e
considerava o contexto de uso, em meio às condições externar da língua.
Nessa perspectiva, como
mencionado por Koch (1999), diversos autores como Beaugrande e Dressler, Givón,
Weinrich, Van Dijk e Petöfi apoiaram-se em outras ciências como a Análise
do Discurso e a Psicologia para fundamentar as suas perspectivas de texto.
Concomitante a isso, essas visões interdisciplinares somente serão válidas se estiverem associadas às
concepções de língua e de sujeito, uma vez que a compreensão varia conforme o pensamento de cada autor e em determinado período de estudo da
linguagem.
Por isso, pensar o texto
somente como (1) uma sequência coerente de enunciado (ISENBERG, 1970 apud BITTENCOURT, 1987, p. 63), (2) uma unidade formal dotada de
estrutura interna e gerada por meio de um sistema que é internalizado pelos
usuários da língua (CHAROLLES, 1983) ou, (3) uma sequência linear de lexemas e
morfemas (WEINRICH, 1976 apud MARCUSCHI,
2012, p. 25), reduz o conceito de texto a critérios de definições temáticas
nesses autores, os quais resolviam as indagações surgentes à época,
a fim de dar suporte para que houvesse uma consolidação da Linguística como ciência da linguagem com características interdisciplinares.
Assim, é no pensamento de
Mascuschi (2012), ao trazer em sua obra uma definição geral provisória da
Linguística Textual sobre o conceito de texto, a presença de um olhar do texto
como um ato comunicativo unido pela diversidade das ações humanas, assim como
na interpretação de Koch (2011) o entendimento do texto como uma construção
social e histórica, cujo grau de complexidade é elevado e multifacetado, que são apresentadas perspectivas mais completas sobre a visão conceitual do tema em
análise, embora transitórias.
O texto não deve ser pensado somente
por meio de definições de imanência do sistema linguístico, por critérios
temáticos e transcendentes a ele ou como um processo de mapeamento cognitivo
(MARCUSCHI, 2012), mas como um evento comunicativo e dialógico realizado na
interação entre sujeitos sociais.
Portanto, o texto pode ser disposto
no formato digital e não digital, dependendo do local físico de sua
disseminação. Assim, textos digitais são aqueles divulgados na tela, também
digital, os quais requerem do indivíduo o domínio do letramento alfabético,
visto que o usuário somente será capaz de manipular textos dispostos em tela caso
possua o conhecimento dos textos não digitais, como assegurado por Xavier (2004
apud SANTOS; MENDONÇA, 2007, p. 136). Bate-papos, fóruns eletrônicos de discussão, comunidades virtuais, e-mails
etc. são gêneros digitais escritos pelo uso de configurações dos textos digitais
(MARCUSCHI; XAVIER, 2004 apud SANTOS;
MENDONÇA, 2007, p. 139). Logo, textos não digitais são aqueles disseminados por meio de outros suportes que não sejam através da tela digital.
Referências:
BITTENCOURT, S. T. Pensar o texto: subsídio para a formulação dos conteúdos e da metodologia do ensino de língua portuguesa no 2º grau. Educar, v. 1, n. 6, p. 55-71, jan./dez. 1987. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0104-4060&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 1º maio 2021.
CHAROLLES,
M. Coherence as a principle of interpretability of discourse. Text, v. 3, n. 1, p. 71‐98, 1983.
KOCH, I. G. V. A coesão
textual. 12. ed. São Paulo: Contexto, 1999.
KOCH,
I. G. V. Introdução à linguística textual:
trajetória e grandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
MARCUSCHI, L. A. Linguística textual: o que é e como se faz? São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
MARCUSCHI, L. A. Aspectos linguísticos, sociais e cognitivos na produção de sentido. Revista do GELNE, v. 1, n. 1, p. 7-15, fev. 2016. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/gelne/article/view/9272. Acesso em: 1º maio 2021.
XAVIER, A. C. S. Letramento digital e ensino. In: SANTOS, C. F.; MENDONÇA, M. (org.). Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 133-148.
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