Ao escolher a cantora Sandy Leah como garota-propaganda,
a cervejaria Schincariol, produtora da marca Devassa, tentou desconstruir a
imagem da cantora de menina boazinha e comportada, associando isso à marca da
cerveja e do slogan da campanha. Para isso, a garota de 28 anos à época foi
apresentada no videoclipe com novo visual: cabelos curtos e clareados, decotes,
short, brincos grandes e sobrancelhas arqueadas.
O texto multimodal será analisado
criticamente e o corpus será o 2º videoclipe da campanha publicitária “Todo
mundo tem um lado devassa” de 2011, sendo analisado à luz dos estudos de Lim-Fei
e Yin (2017), em conformidade com metafunções envolvimento e forma.
Fotos 1 – Sequência de imagens
que introduzem o videoclipe
1A
1B
1C
1D
1E
Ao principiar o videoclipe, é perceptível
essa cena sequenciada por 5 imagens aqui representadas, em que a cantora
apresenta a cerveja Devassa para os telespectadores/consumidores. Assim, tal
ato é simultâneo à reprodução da introdução da música “Conga, conga, conga” de Gretchen,
em ritmo desprendido de salsa.
Na análise das imagens, é perceptível a manutenção
da desconstrução da figura popular cheia de adjetivos meigos, a qual foi administrada
pela cantora aos longos dos anos, em decorrência de cantar músicas infantis com
seu irmão Júnior e ter uma personalidade serena, ser uma pessoa de poucas
palavras e sorrisos graciosos.
ENVOLVIMENTO
Para a produção do efeito desejado na
publicidade, Sandy anuncia a bebida movimentando os lábios sensualmente, além de
arquear o ombro mais próximo da tela em sua audiência em 1C (grau elevado de
intimidade), ao pronunciar o adjetivo “desinibido”, a fim de chamar o interlocutor
para si, e em 1D, ao proferir a palavra “desencanado” por meio de movimentos
sensuais, evidencia a reprodução de seu ethos na mensagem, agindo de
forma apelativa com um propósito de natureza tipicamente econômica, visto que o
objetivo dela é vender o produto ora patrocinado, como demonstrado em 1E. Nesta
mesma imagem, o olhar de demanda revela a exigência de uma relação interpessoal
entre o interlocutor e sujeito, através do olhar direto.
Dessa maneira, por revelar um grau elevado
de intimidade, todas as imagens possuem o aspecto da foto próxima, cuja
finalidade é a apresentação de captura das expressões faciais e a transmissão
das emoções do sujeito.
Por conseguinte, é perceptível em todas as
imagens elencadas, em virtude do grau de intimidade produzido pela cantora para
com seus interlocutores, o direcionamento da atenção da imagem para a relação existente
entre o sujeito representado na propaganda e o ambiente da locução (com a presença
de luzes de holofotes no fundo), caracterizando as fotos médio do ambiente em que
a garota-propaganda está situada (ambiente de festa).
Vejamos estas imagens:
Fotos 2 – Sequência de imagens descontraídas
de Sandy
2A
2B
2C
2D
Nas cenas produzidas pelas imagens em
apreço, evidencia-se o cenário de reprodução da interlocução, ou seja, o kairós
(um bar fechado ao público). Aquilo que nas imagens anteriores
(1A-1E), mantinha-se desfocado no plano de fundo, agora se revela nitidamente,
dando um valor social para a produção dos sentidos do local de realização das
ações, através da proeminência da iluminação.
É perceptível, também, questões de
generalizações com o uso do ângulo da foto para a produção de poder nesses
instantes das fotografias, em virtude de a protagonista ser focalizada em um
ângulo baixo em relação aos outros sujeitos presentes no bar, principalmente em
2A e 2D, as quais trazem a presença não velada do público. Por conseguinte, em
2D fica evidente ao visualizador da imagem o distanciar completo do
sujeito, visto não haver uma relação estabelecida entre eles, preservando o não
olhar.
Apreciemos a leitura crítica multimodal
destas imagens:
Fotos 3
– Paquera no interior do bar
3A
3B
Conforme a leitura
crítica dessas imagens, prolifera-se a manifestação social de que em ambientes
de festa e diversão, onde há frequentadores ingerindo bebidas alcoólicas, as
pessoas estão disponíveis para possíveis investimentos amorosos, caso frequentem
esses ambientes sem a presença de um relacionamento, como se percebe nas
imagens acima (é visível a quantidade correta de pares).
Quanto à realização do
objeto visual , percebe-se a troca de olhares de demanda (olhar direto), em
vistas de maximizar um elevado grau de envolvimento entre os dois grupos de
frequentadores do bar, um masculino e
outro feminino vistos frente a frente no videoclipe.
Nessa espreita, é bem
típico em ambientes retratados na duas imagens a existência de interação entre
pessoas de sexos opostos, fazendo referência ao contexto literal das ações
humanas já tipificadas, visto que o significado dessa ações são exatamente
como indicado nas imagens e sem maiores interpretações, já que o substrato
literal é bem visível.
Fotos 4
– Um brinde às novas amizades
4
A cena retratada na
imagem funciona como uma espécie de culminância do videoclipe e de toda a
diversão exibida nele, com a representatividade de todo o público envolvido no
processo de construção dos sentidos, com o uso de uma foto mais distante capaz de
abranger toda a área de produção e recepção.
Assim, fica evidente a
manutenção dos aspectos de poder manifestados na modalidade apelativa da
taxonomia de Lim-Fei e Yin (2017), agora com um grau de empoderamento mais
elevado, em vistas às aprovação de todos os sujeitos do bar, os quais corroboram
com os aspectos da mensagem de envolvimento econômico dos interlocutores,
principalmente pelo fato deles manterem seus copos levantados durante o brinde,
focando na audiência da marca e em uma proeminência com um grau maior de
importância do slogan em cores vermelho e amarelo (nitidez).
Vejamos no epílogo do videoclipe as críticas a estas imagens:
Fotos 5
– Um brinde de finalização
5A
5B
Se
por um lado, o olhar direto (de demanda) de Sandy em 5A solicita o consumo da
cerveja pelo interlocutor, principalmente pelo fato de a cantora, outrora com
comportamentos infantilizados, consegue aderir ao uso da bebida alcoólica de forma natural,
divertida e com pleno engajamento, por outro lado, em 5B o olhar indireto (de
oferta) estabelece a seguridade do consumo da Devassa, principalmente pelo fato
da cantora brindar com a cerveja, dando ao frasco a ideia de personificação do
produto, causando a ele empoderamento e credibilidade.
Portanto,
com pouco interesse de manter a campanha educativa de anunciar o produto
divulgado com sendo nocivo à saúde, o modo verbal presente nos dois recortes
infere para um contexto de recepção negativo, desde que se relacione ao uso das
bebidas alcoólicas, pois caso o consumidor consiga refletir sobre os sérios
danos que a bebida pode causar à sua saúde, desistiria de apreciá-la por ser
enganado pela falta de informação
FORMA
Na perspectiva de Lim-Fei e Yin (2017) e
associada à metafunção textual hallidiana, a forma é classificada em Visual
e Língua.
Na parte visual, tem-se a representação
pela exibição principal, foco de atenção, ícone e logo, enquanto que em língua
tem-se título, texto principal, slogan, nome do produto, marca, chamada para
ação lista de itens e chamada/visitação da informação.
Vejamos esta representatividade:
Figura
1
– A forma como metafunção
Referências:
LIM-FEI, Victor ; YIN, Serene Tan Kok. Multimodal translational research: teaching visual texts. In:
SEIZOV, Ognyan; WILDFEUER, Janina (ed.). New studies in multimodality:
conceptual and methodological elaborations. London: Bloomsbury, 2017. p. 175-199.
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