Aprendizagem por design: a didatização do videoclipe da música Mrs. Potato Head à luz do letramento crítico-visual

 


          Para início de conversa...

Com o surgimento do termo “multiletramentos” pelo The New London Group em 1996, uma nova pedagogia se apresenta diante das mudanças de paradigmas, em vistas ao surgimento das novas mídias e dos novos modelos de comunicação. Assim, a integração dos diversos modos de construção dos significados, os quais integram o texto verbal ao visual, ao áudio, ao espacial, ao gestual, induziu ao aluno a não se comunicar somente por meio da busca de significados, entretanto por sua capacidade de construir o sentido da linguagem em outros sistemas simbólicos.

De forma tradicional, a pedagogia da alfabetização tem foco na apresentação de um ensino e aprendizagem pautada na leitura e na escrita formal, deixando de evidenciar uma visão mais ampla, em que haja conexão do aluno com as diversas culturas, dando-lhe capacidade para ter uma vida em comunidade de construção real dos significados.

Nesse sentido, é pela vivência do estudante no mundo globalizado que surge a aprendizagem por design e, consequentemente, uma formação de profissionais designers que são capazes de apresentar um design de significados, no intuito de fornecer recursos disponíveis (neste caso o videoclipe) para dar uma significação contextualizada e apresentar um produto final reprojetado (NLG, 2000).

Esta atividade crítica irá apresentar o videoclipe intitulado Mrs. Potato Head (Senhora Cabeça de Batata) como recurso propício para análise, cujo objetivo gira em torno de, mediante a construção dos sentidos, ajudar os alunos de uma turma do 3º ano do ensino médio a refletir sobre os temas sociais causadores de debates, e assim trazer à lume situações aparentes nas imagens recortadas ao contexto do mundo real.  

É na visão do novo grupo de Londres que o ensino deveria incluir componentes  como (1) prática situada, (2) enquadramento crítico, (3) instrução aberta e (4) prática transformada, para projetar uma aprendizagem para o século XXI. Nesse sentido, a prática situada tem base na experiência do aluno; o enquadramento crítico permite uma visão geral do estudo e da compreensão do design; a instrução aberta corresponde à intervenção do professor e a compreensão sistêmica e consciente do aluno sobre os recursos projetados; e a prática transformada condiz nas atividades que os alunos aplicam o conhecimento aprendido a outros contexto.    

Para isso, nesta primeira fase da pesquisa, será levado em conta a evolução do estudo do grupo de Londres feita por Kalantzis e Cope (2005), os quais reformularam as quatro dimensões presentes na pedagogia dos multiletramentos em outros quatro “processos de aprendizagem”, a saber: o experienciar, o conceituar, o analisar e o aplicar, entretanto neste momento somente os dois primeiros processos serão levados em conta para esta análise (experienciar e conceituar). 

Apresentando o corpus e o roteiro prévio da pesquisa

Mrs. Potato Head é uma canção lançada em 14 de agosto de 2015 pela cantora estadunidense Melanie Martinez (Melanie Adele Martinez), uma artista polêmica e vencedora da terceira temporada de The Voice, em 2012, que possui cabelos pintados em duas cores.

Algumas problemáticas sociais são retratadas com maior frequência no videoclipe, como: (1) o poder influenciador da mídia, (2) os padrões de belezas impostos pela sociedade, (3) a submissão feminina na sociedade patriarcal, (4) a busca pela perfeição física a qualquer custo, (5) os complexos psicológicos, (6) a ilusão do casamento perfeito, entre outros.

Como problema de pesquisa, este estudo pretende responder este questionamento: como a acepção visual corrobora para a construção do pensamento crítico do aluno e o surgimento de outros significados aplicável à realidade?  

As análises deste estudo objetivam a apresentação de uma nova produção de sentidos nos discentes, por meio da didatização de perguntas e exposição de algumas imagens do videoclipe, a fim de situar o aluno em um contexto inicial de produção para, finalmente, e mediante uma prática situada, levá-lo a reprojetar novas concepções críticas de leitura e representação do mundo real.  

              Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=wkri1NUq9ro

Vejamos a atividade orientada para construção do letramento crítico-visual no público-alvo escolhido para esta pesquisa:

1. Em relação ao contexto histórico destas imagens, quais os efeitos de sentido causados em você?


2. O que é perceptível para você nesta imagem?
     

3. E nesta? Diferencie. 


4. O que acontece nesta imagem? Você se submeteria a esse tipo de procedimento?


5. O que motivou este acontecimento e como classificaria este ato? 


6. Procure apresentar uma narrativa para estas três imagens.




7. Em um relação dialógica, que novos referentes no mundo real podem ser introduzidos na leitura desta imagem?



8. E na leitura desta? Relate.


Considerações provisórias

A prática do letramento crítico-visual em sala de aula é capaz de construir análises aprimoradas do ler e perceber o mundo, visto que no processo de aprendizagem os alunos serão motivados a interpretar os diversos modos semióticos existentes no gênero textual em análise e, por meio de erros e acertos, conseguirão validar a sua própria aprendizagem significativa.
Em síntese, esse tipo de atividade não tem o objetivo de aprovar ou reprovar os comentários dos alunos, mas induzi-los para a construção coletiva dos seus saberes, a fim de que possam solucionar as diversas problemáticas sociais elencadas no videoclipe. Logo, os alunos buscarão, através de suas experiências, experienciar a aprendizagem e projetor seus conceitos diversos para a aplicabilidade no mundo real.    


Referências:

KALANTZIS, M.; COPE, B. Learning by design project group. Learning by Design. Melbourne: Victorian Schools Innovation Commission & Common Ground, 2005.

MRS. POTATO Head. Dirigido por Melanie Martinez. Produção de Jennifer Goodridge. EUA: Atlantic Records, 2015. 1 vídeo (5 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wkri1NUq9ro. Acesso em: 08 jun. 2021.

THE NEW LONDON GROUP. Multiliteracies: literacy learning and the design of social futures. London: Routledge, 2000.

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